quarta-feira, 24 de abril de 2013

Macunaíma, de Mário de Andrade

Imagem do filme homônimo de 1969

"Macunaíma" é fruto do conhecimento reunido por Mario de Andrade acerca das lendas e mitos indígenas e folclóricos. Dessa forma, pode-se dizer que a obra é uma rapsódia, que é uma palavra que vem do grego e designa obras tais como a Ilíada e a Odisséia de Homero. Para os gregos, uma rapsódia é uma obra literária que condensa todas as tradições orais e folclóricas de um povo. Além disso, na música (Mario de Andrade tinha formação musical também) uma rapsódia utiliza contos tradicionais ou populares de certo povo em temas de composição improvisada.

Há, ainda, uma aproximação ao gênero épico: à medida que o livro narra, em trechos fragmentados, a vida de um personagem que simboliza uma nação. Sobre a acepção musical dada pelo dicionário, chama atenção o improviso da narrativa, que impressiona e surpreende a cada momento, tendo como pano de fundo a cultura popular.




O enredo dessa rapsódia pode tornar-se confuso ao leitor acostumado ao pacto de verossimilhança realista. Por exemplo, é necessário aceitar o fato de o protagonista morrer duas vezes no romance; ou, então, que Macunaíma, em uma fuga, possa estar em Manaus e, algumas linhas depois, aparecer na Argentina; ou ainda o fato de o herói encontrar uma poça que embranquece quem nela se banha.



A verossimilhança em questão é surrealista e deve ser lida de forma simbólica. A cena em que Macunaíma e seus dois irmãos se banham na água que embranquece pode ser entendida como o símbolo das três etnias que formaram o Brasil: o branco, vindo da Europa; o negro, trazido como escravo da África; e o índio nativo. Nessa cena, Macunaíma é o primeiro a se banhar e torna-se loiro. Jiguê é o segundo, e como a água já estava “suja” do negrume do herói, fica com a cor de bronze (índio); por último, Manaape, que simboliza o negro, só embranquece a palma das mãos e a sola dos pés.



Atividades
Em 2013, completam-se 85 anos de sua primeira publicação. Estas atividades procurarão levantar algumas questões sobre o livro e o autor para lhe ajudar a compreender melhor a obra. É importante que você tenha lido ou assistido as aventuras de Macunaíma.

Veja os dois poemas a seguir:

         Vício na fala                                                      Macumba de Pai Zusé
Para dizerem milho dizem mio                                      Na macumba do Encantado
Para melhor dizem mió                                                Nego véio pai de santo fez mandinga
Para pior pió                                                               No palacete de Botafogo
Para telha dizem teia                                                    Sangue de branca virou água
Para telhado dizem teiado                                            Foram vê estava morta!
E vão fazendo telhados                                              (Libertinagem, Manuel Bandeira).
(Pau Brasil, Oswald de Andrade).

Podemos observar que a linguagem usada nos dois poemas se aproxima bastante com a que Mário de Andrade usa em seu livro. Dessa forma, faça uma leitura atenta dos dois poemas e responda as seguintes questões:
Atividades

a) Identifique nos poemas palavras grafadas e construções linguagem oral.


Os três escritores mencionados nesse exercício (Oswald de Andrade, Manuel Bandeira e Mário de Andrade) são contemporâneos e fizeram parte do movimento literário que ficou conhecido como Modernismo. O que você poderia dizer sobre as semelhanças entre os poemas apresentados?
No dia-dia pronúncias que fogem a norma culta da língua são chamadas de “vícios” e, assim, são menosprezadas constantemente. No poema “Vícios da fala”, de Oswald de Andrade, vemos muitas dessas pronúncias transcritas. Observe melhor os dois últimos versos “Para telhado dizem teiado /E vão fazendo telhados.” Pensando na camada social que é representante dessa modalidade lingüística descrita no poema, responda:

a) Como você interpreta essa fala que afirma que quem diz “teiado” faz “telhados”?


Leia o seguinte trecho de Macunaíma:

“Então passou Caiuanogue, a estrela-da-manhã. Macunaíma já meio enjoado de tanto viver pediu pra ela que o carregasse pro céu. Caiuanogue foi se chegando porém o herói fedia muito.
-Vá tomar banho! Ela fez. E foi-se embora.
Assim nasce a expressão “Vá tomar banho” que os brasileiros empregam se referindo a certos imigrantes europeus.”


Em Macunaíma há a descrição de como foram criadas algumas das principais expressões usadas naquele período no Brasil. “Vá tomar banho” é uma expressão, no entanto, que perdura até os dias atuais, porém com uma utilização diferente da descrita no livro.

a) Compare o uso de “Vá tomar banho” no período do livro com o atual, pensando nas mudanças de contexto e do próprio significado da expressão. Atente também para o significado inicial dessa expressão no livro Macunaíma.


quarta-feira, 17 de abril de 2013

Semana de 22


Histórico

Inserida nas festividades em comemoração do centenário da independência do Brasil, em 1922, a Semana de Arte Moderna apresenta-se como a primeira manifestação coletiva pública na história cultural brasileira a favor de um espírito novo e moderno em oposição à cultura e à arte de teor conservador, predominantes no país desde o século XIX. Entre os dias 13 e 18 de fevereiro de 1922, realiza-se no Theatro Municipal de São Paulo um festival com uma exposição com cerca de 100 obras e três sessões lítero-musicais noturnas. Entre os pintores participam Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Ferrignac, John Graz, Vicente do Rego Monteiro, Zina Aita, Yan de Almeida Prado e Antônio Paim Vieira, com dois trabalhos feitos a quatro mãos, e o carioca Alberto Martins Ribeiro, cujo trabalho não se desenvolveu depois da Semana de 22. No campo da escultura, estão Victor Brecheret, Wilhelm Haarberg e Hildegardo Velloso. A arquitetura é representada por Antônio Garcia Moya e Georg Przyrembel. Entre os literatos e poetas, tomam parte Graça Aranha, Guilherme de Almeida, Mário de Andrade (1893 - 1945), Menotti del Picchia, Oswald de Andrade, Renato de Almeida, Ronald de Carvalho, Tácito de Almeida, além de Manuel Bandeira com a leitura do poema Os Sapos. A programação musical traz composições de Villa-Lobos e Debussy, interpretadas por Guiomar Novaes e Hernani Braga, entre outros.



Sem programa estético definido, a Semana desempenha na história da arte brasileira muito mais uma etapa destrutiva de rejeição ao conservadorismo vigente na produção literária, musical e visual do que um acontecimento construtivo de propostas e criação de novas linguagens. Pois, se existe um elo de união entre seus tão diversos artífices, este é, segundo seus dois principais ideólogos, Mário e Oswald de Andrade, a negação de todo e qualquer "passadismo": a recusa à literatura e à arte importadas com os traços de uma civilização cada vez mais superada, no espaço e no tempo. Em geral todos clamam em seus discursos por liberdade de expressão e pelo fim de regras na arte. Faz-se presente também certo ideário futurista, que exige a deposição dos temas tradicionalistas em nome da sociedade da eletricidade, da máquina e da velocidade. Na palestra proferida por Mário de Andrade na tarde do dia 15, posteriormente publicada como o ensaio A Escrava que Não É Isaura , 1925, ocorre uma das primeiras tentativas de formulação de idéias estéticas modernas no país. Nessa conferência, o autor antevê a importância de temperar o processo de importação da estética moderna com o nativismo, o movimento de voltar-se para as raízes da cultura popular brasileira. A dinâmica entre nacional e internacional torna-se a questão principal desses artistas nos anos subseqüentes. 
Os primórdios da arte  moderna no Brasil


Em 1913, estivera no Brasil, vindo da Alemanha, o pintor Lasar Segall. Realizou uma exposição em São Paulo e outra em Campinas, ambas recebidas com uma fria polidez. Desanimado, Segall seguiu de volta à Alemanha, só retornando ao Brasil dez anos depois, quando os ventos sopravam mais a favor. A exposição de Anita Malfatti em 1917, recém chegada dos Estados Unidos e da Europa, foi outro marco para o Modernismo brasileiro. Todavia, as obras da pintora, então afinadas com as tendências vanguardistas do exterior, chocaram grande parte do público, causando violentas reações da crítica conservadora. A exposição, entretanto, marcou o início de uma luta, reunindo ao redor dela jovens despertos para uma necessidade de renovação da arte brasileira. Além disso, traços dos ideais que a Semana propunha já podiam ser notados em trabalhos de artistas que dela participaram (além de outros que foram excluídos do evento). Desde a exposição de Malfatti, havia dado tempo para que os artistas de pensamentos semelhantes se agrupassem. Em 1920, por exemplo, Oswald de Andrade já falava de amplas manifestações de ruptura, com debates abertos.


Entretanto, parece ter cabido a Di Cavalcanti a sugestão de "uma semana de escândalos literários e artísticos, de meter os estribos na barriga da burguesiazinha paulistana." Artistas e intelectuais de São Paulo, com Di Cavalcanti, e do Rio de Janeiro, tendo Graça Aranha à frente, organizavam a Semana, prevista para se realizar em fevereiro de 1922. Graça Aranha, sob aplausos e vaias abriu o evento, com sua conferência inaugural "A Emoção Estética na Arte Moderna". Essa semana iria "revoltar aqueles que reagem movidos pelas forças do Passado."



A dispersão

Logo após a realização da Semana, alguns artistas fundamentais que dela participaram acabam voltando para a Europa (ou indo lá pela primeira vez, no caso de Di Cavalcanti), dificultando a continuidade do processo que se iniciara. Por outro lado, outros artistas igualmente importantes chegavam após estudos no continente, como Tarsila do Amaral, um dos grandes pilares do Modernismo Brasileiro. Não resta dúvida, porem, que a Semana integrou grandes personalidades da cultura na época e pode ser considerada importante marco do Modernismo Brasileiro, com sua intenção nitidamente anti-acadêmica e introdução do país nas questões do século. A própria tentativa de estabelecer uma arte brasileira, livre da mera repetição de fórmulas européias foi de extrema importância para a cultura nacional e a iniciativa da Semana, uma das pioneiras nesse sentido.


Os Sapos
Manuel Bandeira

Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.

O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinquüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.

Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas..."

Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- A grande arte é como
Lavor de joalheiro.

Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo".

Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas,
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".

Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Veste a sombra imensa;

Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é

Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio...

terça-feira, 16 de abril de 2013

Aulas de Reforço


Desde Fevereiro, estão acontecendo aulas de reforço de Língua Portuguesa para as turmas de 3º Ano, nas aulas de projeto, estudo e num horário extra, a 10ª aula. Esse reforço tem como objetivos:
  • Estimular a leitura; 
  • Oferecer apoio para os alunos realizarem um plano de autocorreção individual ou grupal, para que possam analisar seus erros ortográficos; 
  • Melhorar o desempenho dos educandos nas produções textuais, de acordo com as competências e habilidades das avaliações externas a que serão submetidos (ENEM, SPAECE);